quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

A importância de desenvolver indicadores confiáveis e capazes de reportar com confiabilidade os resultados

A gestão do conhecimento em uma organização é uma importante ferramenta para a gestão do negócio e vem sendo cada vez mais exigida, seja nas organizações públicas ou privadas. Porém, vários são os obstáculos que impactam neste processo, dentre eles a inexistência de indicadores que possam demonstrar os resultados das ações implementadas pela organização. Daí a importância de se desenvolver indicadores confiáveis e capazes de reportar, com confiabilidade os resultados.
Indicadores são medidas-sínteses que revelam a realidade por meio dos números e são capazes de quantificar e qualificar uma dada informação. O indicador é um instrumento operacional utilizado para o monitoramento de processos e medição de resultados que necessita manter a essência da informação, não devendo substituir o conceito que se deseja medir pela própria medida. Isto quer dizer que os elaboradores e gestores de políticas públicas, empresas, programas e projetos devem considerar o papel dos indicadores como instrumentos de apoio à decisão e não como uma medida que reflete toda complexidade do conceito ao qual se refere.
Os indicadores devem estar alinhados às estratégias como, por exemplo, aos resultados a serem atingidos, sendo este alinhamento essencial para uma boa gestão. Um indicador, para ser aplicado a uma dada realidade necessita apresentar algumas das propriedades básicas a seguir:
-      Cobertura: abrangência espacial ou populacional;
-      Confiabilidade da medida;
-      Validade: grau de proximidade entre o conceito e o indicador;
-      Relevância social: atributo fundamental para justificar sua produção e legitimar seu emprego no processo de análise, formulação e implementação de políticas públicas e/ou ações e projetos organizacionais;
-      Viabilidade operacional para sua obtenção;
-      Transparência metodológica na sua construção;
-      Sensibilidade: capacidade de refletir as mudanças;
-      Desagregabilidade: capacidade de trabalhar em várias escalas (nacional, estadual, municipal, mundial, pequenas localidades);
-      Comunicabilidade ao público;
-      Periodicidade de atualização: para acompanhar as mudanças sociais, econômicas, ambientais, etc.;
-      Historicidade: dispor de séries históricas.
Um indicador isolado não consegue retratar a realidade de uma  dada dimensão social, econômica, ambiental, ou de resultados de múltiplos departamentos de uma dada organização, e, nesse sentido, faz-se necessário, para sua melhor operacionalização, a criação de um sistema de indicadores que reúna informações relevantes, representadas pelo conjunto de indicadores relacionados a uma temática de interesse, área de intervenção programática ou a um determinado aspecto da realidade. 
Dessa forma, um sistema de indicadores facilita o monitoramento de objetivos, resultados e metas por parte das organizações públicas ou privadas, permitindo, quando necessário, revisões e ajustes, visando maior eficácia, eficiência e efetividade dos mesmos. Conforme reforça Jannuzzi (2009), o processo de construção de um sistema de indicadores é composta de várias etapas:
      Explicitação da demanda, ou seja, o estabelecimento dos objetivos programáticos de um plano, ação, programa ou projeto;
      Delineamento das dimensões a serem abrangidas, assim como das ações operacionais correspondentes;
      Desenvolvimento de uma lista de indicadores e dos dados necessários para a construção dos mesmos;
      Localização das fontes e coleta de dados (gerados no âmbito das ações operacionais ou em bases de dados oficiais);
      Sistematização e análise dos dados coletados.
A construção de indicadores, ou de um sistema de indicadores, é facilitada uma vez que os objetivos e os resultados estejam bem estabelecidos e que ocorra a associação de cada objetivo e resultado a um conjunto de indicadores. Desenvolver perguntas a partir dos objetivos propostos, para serem respondidas pelo indicador, contribui para o êxito desta atividade.
Um exemplo de sistema de indicadores é o Balanced Scorecard (BSC), que se refere a uma metodologia de gestão estratégica utilizada na organização e classificação dos indicadores. O BSC é uma metodologia para avaliação de desempenho empresarial e de gestão estratégica proposta por Kaplan e Norton em 1992, na qual são observados indicadores financeiros, mas também os não financeiros. Ao avaliar o desempenho, parte-se de estratégias ou diretrizes e, neste contexto, os resultados apresentados por meio de indicadores não financeiros vão refletir ou influenciar os resultados dos indicadores financeiros.  Diferentes autores dizem que o BSC deve incorporar relações de causa-efeito entre os indicadores de desempenho e os fatores motivadores identificados na estratégia, onde algumas perspectivas para monitorar o desempenho de uma empresa não podem faltar: financeira, clientes, processos internos, aprendizagem e crescimento.

Outro exemplo, são os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), que compõem a Agenda 2030 (ONU), esta Agenda é um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade e que por meio de 17 objetivos, 169 metas e 241 indicadores, propõe a integração das dimensões social, ambiental, econômica e institucional em busca da promoção do desenvolvimento sustentável. Conforme carta de intenções da ONU, os objetivos e metas serão acompanhados e avaliados utilizando um conjunto de indicadores globais. Estes irão ser complementados por indicadores nos níveis regionais e nacionais que serão desenvolvidos pelos Estados-membros.

Os dois exemplos ilustram a utilização de sistemas de indicadores com objetivos diferentes, mas ambos estão alicerçados em conceitos básicos, bem como em uso de larga escala para comparabilidade. É importante ressaltar que o uso de indicadores deve ocorrer a partir de uma avaliação crítica das propriedades anteriormente descritas e não apenas pelo uso tradicional dos mesmos e nem apenas por modeles, que mesmo validados em determinadas organizações precisam de ajustes para outras, já que as realidades são diferentes e as especificidades devem ser consideradas. Além disso, o fator periodicidade e representatividade são fundamentais para a melhor representação da realidade estudada, pois um indicador bom apenas vai indicar, iluminar um fato, nunca substituirá o conceito que lhe originou e nem dará conta de ser a realidade, pois ela é dinâmica e multifacetada.



Fonte:
JANNUZZI, Paulo de Martino. Indicadores para diagnóstico, monitoramento e avaliação de programas sociais no Brasil. Revista do Serviço Público. Brasília, 56 (2), 137-160, abr/jun 2005.
________Indicadores sociais no Brasil: conceitos, fonte de dados e aplicações. Campinas: Alínea, 2009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário